Review: A Estrada (The Road, EUA, 2009)

 

Avaliação pessoal: 8,5

 

“A Estrada”, ou, The Road, como prefiro chamar, e ao longo dos posts vocês verão que prefiro tratar os filmes pelos nomes originais (muito em função de achar absurdos alguns nomes em português atribuídos a filmes), NÃO é mais um filme sobre o que aconteceria se o mundo vivesse uma catástrofe que poria fim a quase todos os recursos naturais essenciais à nossa sobrevivência. Não, não é. The Road é um filme forte que ultrapassa as pretensões de um Mad Max da vida, mexendo realmente com princípios humanos, pondo o espectador a pensar sobre o que faria em situação semelhante.

A história tem como protagonistas pai (Viggo Mortensen) e filho, que empurram, literalmente, seu destino por meio de um carrinho de supermercado, vivendo como verdadeiros nômades em um mundo devastado por alguma espécie de catástrofe, não explicada pela história, mas perfeitamente plausível tendo em vista a instabilidade, natural e política que hoje vivemos, valendo a pena destacar a sutileza que o filme  trata a questão,  sem ser proselitista ou acenar bandeiras de “Salve a Natureza” ou “Morte ao Bush”.

Nesse contexto, ambos, pai e filho, traçam seu destino em direção à costa, esperançosos de encontrarem perto do oceano um resquício de vida que os salvasse de tão sombrio mundo. O cenário da longa caminhada é cinza e sem vida, as árvores são como num outono permanente e o gelo cobre a maior parte das terras. Quase não há comida e por onde andam vasculham tudo em busca de algo que lhes possa servir em sua batalha pela sobrevivência.

No caminho, se deparam com a destruição e o desespero daqueles que tentaram sobreviver e fracassaram, seja exauridos pela natureza, seja vencidos pela aflição (caso dos que ceifaram as próprias vidas), encarando-os com mórbida naturalidade, e dos que sobreviveram mas também fracassaram, pois alcançaram o grau máximo de primitividade: o canibalismo.

O pai, fantasticamente protagonizado por Mortensen, mesmo em tão incessante busca por comida, não abandona  (na maior parte do filme, e interessante perceber o ponto em que o mesmo se desespera) seus princípios e tenta os passar a seu filho, como se um mantra entoasse. Valores de que, mesmo em ambiente tão hostil não se pode trocar a qualquer preço a dignidade pela sobrevivência. Já a pobre criança, ao passo que rememora tristemente as poucas lembranças de sua Mãe (Charlize Theron, que, cansada de lutar, os abandona no meio da noite como se desistisse de viver), faz de um tudo para não desagradar seu Pai, seu herói, mesmo tendo sido obrigado a enfrentar tão escabroso destino, chegando ao cúmulo de pedir desculpas ao mesmo após vomitar a comida podre que acabara de ingerir.

The Road consegue ser ao mesmo tempo sufocante, angustiante, pesado mesmo. Porém, é uma experiência incrível e enriquecedora, que nos faz pensar sobre o quão bom é esse “dirty little world” em que vivemos e o quanto o mesmo pode se tornar indesejável se não fizermos alguma coisa e continuarmos a seguir no rumo em que estamos.

Ou seja, precisamos, como no filme, buscar um oceano que nos traga esperança dentro de nossa realidade.

 

.Paulo Cleoblo

~ por paulocleoblo em julho 6, 2010.

4 Respostas to “Review: A Estrada (The Road, EUA, 2009)”

  1. Boa descrição, ótimo texto, Paulin! Vou assistir.
    De fato, cinema bem parece contigo. Vai se tornar, em brevíssimo, referência neste mundo da troca virtual.

  2. Grande Paulin. Gostei demais da iniciativa. Virei sempre por aqui para me atualizar sobre a fina arte dos filmes, agora com sugestões e comentários cabíveis de quem entende. Boa sorte no blog. Estamos de olho.

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