Review: Trabalho Interno (Inside Job, 2010. USA)

Avaliação Pessoal: 9,5

O resultado de um trabalho sério e meticuloso só poderia realmente ter sido extraordinário. Que documentário, meus amigos! Pra quem curte economia como o que vos fala, então, é quase o ápice que se pode alcançar em termos de entretenimento e informação, principalmente.

Para se fazer um documentário desse nível e com esse tipo de informação é preciso realmente ter muita coragem, o que definitivamente não faltou ao diretor Charles Ferguson, e que  o levou a ser premiado com o Oscar da Academy Awards como o melhor Documentário de 2010-2011. Mais do que justo e surpreendente até, tendo em vista o sem número de aspectos políticos que envolvem a película, não seria novidade se a Academia resolvesse esquecê-lo para fugir da polêmica.

Pois bem, vamos ao que interessa…

Inside Job trata da fatídica “bolha” (ou crise econômica mundial) imobiliária que “estourou” no ano de 2008, onde um dos maiores bancos de investimento (Lehman Brothers) e a maior seguradora do mundo (AIG) vieram à falência após o efeito dominó provocado pela emissão e venda descontrolada de títulos da dívida hipotecária americana. Mas isso era apenas o que se pensava ter sido o real motivo da crise…

Falo inicialmente, pois, ao ver o filme o espectador toma dimensão dos demais fatores que provocaram a segunda maior depressão econômica desde 1929. Tal ponto, diga-se de passagem, é bastante controverso, afinal uns dizem ter sido essa a maior. Neste ponto, o documentário se mostra extremamente didático (até na própria escolha de distribuição do filme em partes/capítulos) e compromissado com o fito de explicar desde como tudo começou até a emersão do monstro que se escondia atrás do “golpe”, demonstrando assim, o quão irresponsáveis, e criminosos até diria, foram os protagonistas (banqueiros, economistas, pessoas do alto escalão do governo americano, etc) envolvidos neste escândalo mundial.

Colocando literalmente o dedo na ferida dos personagens que conduziram parte do mundo à bancarrota, o diretor expõe de maneira cabal e meticulosa o ardiloso plano que tornaria ainda mais ricos os já bilionários banqueiros americanos responsáveis pelos principais conglomerados de investimento do país (EUA) e do mundo (Goldman Sachs, Merrill Lynch, Citigroup JPMorgan Chase e Lehman Brothers), além dos donos de agências de classificação de risco e até mesmo inúmeras pessoas que ocupavam cargos de altíssima importância na gerência econômica do governo americano.

A pergunta principal feita pelo filme e pelos seus espectadores durante a exibição é: mas o que terá acontecido aos responsáveis? Como estamos no Brasil logo nos furtamos a pensar: se fosse aqui obviamente que nada, mas como aconteceu nos EUA devem estar todos na cadeia… A resposta você encontrará assistindo a este indispensável documentário que de tão informativo chega a ser uma aula de economia, administração e política!

Como o filme é um pouco complexo, até pelos termos técnicos que utiliza, me adianto em tentar explicar a seguir o funcionamento do golpe, pivô principal da crise. Para aqueles que não querem estragar a surpresa, sugiro que realmente assistam ao documentário que, garanto, será de grande valia. Para os apressadinhos, segue o demonstrativo em “apressadas linhas” (heheheh!).

O esquema funcionava da seguinte forma: os bancos emitiam os CDO’s (Collateralized Debt Obligation), que eram títulos de dívidas oriundos dos mais variados tipos de empréstimos realizados por eles mesmos (hipoteca, penhor, dívidas de cartões de crédito, empréstimos para universitários, etc) e pagavam altíssimos valores às agências de qualificação de risco (como Moody’s, S&P, Fitch Ratings, etc) para que fixassem o “rating” de seus CDO’s no mais alto patamar – o famoso “triple a” (AAA) – ou seja, como o melhor e mais seguro tipo de investimento possível no mercado.

Nesse ínterim, a maior seguradora do mundo, a americana AIG, havia desenvolvido os CDS’s (Credit Default Swap), uma espécie de apólice de seguro oferecido aos compradores de CDO’s, para que, no caso de estes não serem pagos na data do resgate, a seguradora reembolsasse seus clientes de eventuais prejuízos obtidos do investimento feito nos títulos.

Advinha quem foi o maior comprador desses seguros? Os bancos!! Principalmente o Goldman Sachs que chegou a fazer aportes na casa de 20 bilhões de dólares nessas apólices. Os mesmos bancos que bradavam ser os seus títulos (CDO’s) o melhor investimento possível (AAA), já se precaveram na outra ponta da operação comprando seguros que os protegeriam dos prejuízos nesses CDO’s, pois sabiam, na verdade, que os mesmos eram péssimos investimentos e que muito provavelmente não seriam resgatados na data prevista. Brilhante, não!? Os bancos ganhavam ao vender os títulos de suas dívidas ao passo que também lucrariam na hipótese de estes não serem pagos! É o famoso “lá e lôa”!

Grande abraço!

.Paulo Cleoblo

~ por paulocleoblo em dezembro 2, 2011.

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