Review: Trabalho Interno (Inside Job, 2010. USA)

•dezembro 2, 2011 • Deixe um comentário

Avaliação Pessoal: 9,5

O resultado de um trabalho sério e meticuloso só poderia realmente ter sido extraordinário. Que documentário, meus amigos! Pra quem curte economia como o que vos fala, então, é quase o ápice que se pode alcançar em termos de entretenimento e informação, principalmente.

Para se fazer um documentário desse nível e com esse tipo de informação é preciso realmente ter muita coragem, o que definitivamente não faltou ao diretor Charles Ferguson, e que  o levou a ser premiado com o Oscar da Academy Awards como o melhor Documentário de 2010-2011. Mais do que justo e surpreendente até, tendo em vista o sem número de aspectos políticos que envolvem a película, não seria novidade se a Academia resolvesse esquecê-lo para fugir da polêmica.

Pois bem, vamos ao que interessa…

Inside Job trata da fatídica “bolha” (ou crise econômica mundial) imobiliária que “estourou” no ano de 2008, onde um dos maiores bancos de investimento (Lehman Brothers) e a maior seguradora do mundo (AIG) vieram à falência após o efeito dominó provocado pela emissão e venda descontrolada de títulos da dívida hipotecária americana. Mas isso era apenas o que se pensava ter sido o real motivo da crise…

Falo inicialmente, pois, ao ver o filme o espectador toma dimensão dos demais fatores que provocaram a segunda maior depressão econômica desde 1929. Tal ponto, diga-se de passagem, é bastante controverso, afinal uns dizem ter sido essa a maior. Neste ponto, o documentário se mostra extremamente didático (até na própria escolha de distribuição do filme em partes/capítulos) e compromissado com o fito de explicar desde como tudo começou até a emersão do monstro que se escondia atrás do “golpe”, demonstrando assim, o quão irresponsáveis, e criminosos até diria, foram os protagonistas (banqueiros, economistas, pessoas do alto escalão do governo americano, etc) envolvidos neste escândalo mundial.

Colocando literalmente o dedo na ferida dos personagens que conduziram parte do mundo à bancarrota, o diretor expõe de maneira cabal e meticulosa o ardiloso plano que tornaria ainda mais ricos os já bilionários banqueiros americanos responsáveis pelos principais conglomerados de investimento do país (EUA) e do mundo (Goldman Sachs, Merrill Lynch, Citigroup JPMorgan Chase e Lehman Brothers), além dos donos de agências de classificação de risco e até mesmo inúmeras pessoas que ocupavam cargos de altíssima importância na gerência econômica do governo americano.

A pergunta principal feita pelo filme e pelos seus espectadores durante a exibição é: mas o que terá acontecido aos responsáveis? Como estamos no Brasil logo nos furtamos a pensar: se fosse aqui obviamente que nada, mas como aconteceu nos EUA devem estar todos na cadeia… A resposta você encontrará assistindo a este indispensável documentário que de tão informativo chega a ser uma aula de economia, administração e política!

Como o filme é um pouco complexo, até pelos termos técnicos que utiliza, me adianto em tentar explicar a seguir o funcionamento do golpe, pivô principal da crise. Para aqueles que não querem estragar a surpresa, sugiro que realmente assistam ao documentário que, garanto, será de grande valia. Para os apressadinhos, segue o demonstrativo em “apressadas linhas” (heheheh!).

O esquema funcionava da seguinte forma: os bancos emitiam os CDO’s (Collateralized Debt Obligation), que eram títulos de dívidas oriundos dos mais variados tipos de empréstimos realizados por eles mesmos (hipoteca, penhor, dívidas de cartões de crédito, empréstimos para universitários, etc) e pagavam altíssimos valores às agências de qualificação de risco (como Moody’s, S&P, Fitch Ratings, etc) para que fixassem o “rating” de seus CDO’s no mais alto patamar – o famoso “triple a” (AAA) – ou seja, como o melhor e mais seguro tipo de investimento possível no mercado.

Nesse ínterim, a maior seguradora do mundo, a americana AIG, havia desenvolvido os CDS’s (Credit Default Swap), uma espécie de apólice de seguro oferecido aos compradores de CDO’s, para que, no caso de estes não serem pagos na data do resgate, a seguradora reembolsasse seus clientes de eventuais prejuízos obtidos do investimento feito nos títulos.

Advinha quem foi o maior comprador desses seguros? Os bancos!! Principalmente o Goldman Sachs que chegou a fazer aportes na casa de 20 bilhões de dólares nessas apólices. Os mesmos bancos que bradavam ser os seus títulos (CDO’s) o melhor investimento possível (AAA), já se precaveram na outra ponta da operação comprando seguros que os protegeriam dos prejuízos nesses CDO’s, pois sabiam, na verdade, que os mesmos eram péssimos investimentos e que muito provavelmente não seriam resgatados na data prevista. Brilhante, não!? Os bancos ganhavam ao vender os títulos de suas dívidas ao passo que também lucrariam na hipótese de estes não serem pagos! É o famoso “lá e lôa”!

Grande abraço!

.Paulo Cleoblo

Review: Jogo de Poder (Fair Game, USA, United Arab Emirates. 2010)

•março 27, 2011 • 1 Comentário

Avaliação Pessoal: 8,5

Tirando a poeira do blog, resolvi escrever sobre este filme por “n” motivos, os quais vou expondo no decorrer desta avaliação. Sim. O “review” que faço não é exatamente uma crítica cinematográfica como manda o figurino, mas apenas uma avaliação pessoal sobre os filmes que vejo e que me sinto a vontade em compartilhar com vocês as minhas impressões sobre os mesmos. Mas vamos ao filme, até porque é bom estar de volta e, principalmente, para falar de filmes assim.

Não. Esse não é mais um filme sobre agentes da super Central de Inteligência Americana (CIA ou “Mother” para os mais íntimos) que realizam missões mirabolantes em nome dos interesses da mais importante nação do mundo. Definitivamente não. Este é filme sério, com personagens reais (e não à prova de balas) e que expõe os motivos que realmente levaram os EUA à guerra contra o Iraque e os vários “obstáculos” que o governo Bush teve que enterrar para tornar crível a necessidade de sua nação partir para a belicosidade.

Em meio ao caos deixado pelos atentados no fatídico 09/11, agentes da CIA tentavam desesperadamente encontrar motivos que apontassem o Iraque e seu ditador Saddam Hussein como a principal ameaça à segurança dos americanos em seus doces lares. Acontece que a Central, após meses de investigação, chegou à conclusão que Saddam não possuía ADM (sigla para Armas de Destruição em Massa) alguma e nem sequer os meios para produzi-las, afinal a compra de urânio para a fabricação do armamento que se alegava existir, de fato não ocorreu. O que aconteceu? Bush ficou puto! O que o mesmo iria dizer para todas as indústrias armamentistas que financiaram sua reeleição? Que não ia ter guerra porque Saddam nada mais era que um cachorro morto sem armas para revidar? “Ah não! Vamos à guerra e deem um jeito na CIA!”

E foi isso que sucedeu. Bush anunciou na TV que Saddam havia adquirido urânio para a construção de ADM e que e por esse motivo os EUA não podiam ficar absortos diante de tal situação, só lhes restando uma única opção: WAR!

É ai que entra em ação Joseph Wilson, o ex-embaixador americano que, a mando da própria CIA, encampou a investigação na África que concluiu não ter acontecido a compra do material radioativo, e que após ouvir a falácia apresentada pelo presidente na “telinha” decidiu botar a boca no trombone expondo, assim, a mentira. O corajoso personagem, respeitosamente encenado por Sean Penn, sentiu na pele os dias de cão patrocinados pelo alto escalão da Casa Branca em resposta às acusações que fez, saindo da celeuma como o principal vilão, além de completamente desacreditado, tudo numa construção armada por pela manipulada mídia americana. Não bastasse isso, a apoteose da desgraça que se tornou a sua vida chega com a demissão e exposição da verdadeira identidade de sua esposa Valerie Plame (Naomi Watts), agente secreta da CIA, o que praticamente destruiu seu casamento.

O desfecho do filme fica para vocês acompanharem. Só lhes digo uma coisa: vale muito a pena! Filmes como esses nos fazem pensar sobre a responsabilidade de podermos escolher nossos governantes e o quanto não assumimos a responsabilidade pelo que os mesmos fazem. “Democracy, your bitch!”. Na verdade políticos como Bush chegam todos os dias ao poder com o nosso aval e cruzamos os braços para as atrocidades que os mesmos cometem. Com os Ianques, foi a Guerra do Iraque, porém os mesmos esbravejaram e substituíram um governo podre por outro novo, cheio de esperanças, mas com muito ainda a provar. Já nós Tupiniquins, temos “n” exemplos para citar, menos sanguinolentos, concordo, mas não diferentemente podres, contudo, aqui, resolvemos as coisas de maneira completamente diferente: nos contentamos com “Eu não sabia de nada” e subscrevemos mais um novo prazo para o mesmo governo que com panos quentíssimos abafou, na nossa também manipulada mídia, os escândalos que protagonizou.

. Paulo Cleoblo

Review: Atraídos Pelo Crime (Brooklyn’s Finest,EUA. 2009)

•agosto 5, 2010 • Deixe um comentário

Avaliação Pessoal: 8,0

Três homens. Três policiais. Um sentimento em comum: a necessidade de mudar. Esse é o perfil dos que protagonizam esse excelente filme policial, que foge à atual regra do estilo e não se trata apenas de tiros e efeitos especiais mentirosos. Longe disso, é um filme que orgulha o bom e velho estilo “noir”, de conteúdo denso, recheado de intrigas, traições e relações humanas intensas.

O filme trata de três homens bem distintos embora todos com a mesma profissão. O primeiro deles, Eddie, muito bem interpretado por Richard Gere (que andava devendo uma boa atuação), é um velho policial prestes a se reformar, solitário e cheio de ranços que ganhou através da profissão, decidindo viver o resto de seus dias, literalmente, no “piloto automático”, completamente desacreditado na justiça do mundo, a ponto de desmotivar os novos policiais que chegam (freshman’s) a não buscarem-na, pois, para este, esta não existe.

O segundo, Sal, freneticamente vivido pelo talentoso Ethan Hawke, encerra a imagem de um pai esforçado para sustentar e dar melhores condições a seus filhos (inúmeros, diga-se de passagem, e com um por vir) e esposa, que precisam urgentemente de uma casa nova, afinal, a atual amontoa as crianças pelos quartos e sufoca a sua alérgica companheira devido ao mofo. Porém, assim como grande parte da força policial, acredito eu, em quase todos os países do mundo, mal paga, atolada em dívidas e problemas, acaba por se “socorrer” da corrupção a fim de continuar vivendo. Sendo assim, Sal começa a roubar o produto (dinheiro) obtido pelos traficantes através da venda de drogas, incorrendo no pior erro de todos: acredita estar fazendo a coisa certa.

Por fim, Tango, encenado pelo bom Don Cheadle, é um homem de vida e de sentimentos duplos. Enquanto trabalha como infiltrado, ao lado de um grande traficante de drogas (Wesley Snipes) que propositadamente conheceu na cadeia e acabou construindo com este uma forte relação de amizade, pois o mesmo salvou sua vida na prisão, Tango também busca, com muito esforço, uma tão sonhada promoção a detetive e para isso tem que passar por cima de tudo o que é enquanto homem que honra suas palavras.

Pois bem, caros amigos, é nesse cenário que a, muito bem elaborada, trama se desenvolve e seus personagens percorrem seus arcos dramáticos, alternando entre micro-conquistas e mega-desilusões, vivenciando, cada qual a sua maneira, essa sede por mudança em suas vidas, seja por não agüentar mais o que faz, ou por querer dar maior dignidade aos seus, e ainda por voltar a ser o que era antes.

No final, o Diretor Antoine Fuqua, no melhor filme de sua carreira (disparado!), encerra a película, com competência sobremaneira, juntando o destino de seus protagonistas numa mesma cena, cada um encontrando o seu fim de uma maneira que não esperava, presenteando, dessa forma, o espectador com um final estonteante. Indico com louvores!

.Paulo Cleoblo

Review: O Profeta (Un Prophète, FRA, 2009)

•julho 16, 2010 • Deixe um comentário

Avaliação Pessoal: 8,5

O cinema francês como sempre é muito bom. Aliás, melhor dizendo, há quem não goste, mas para meu gosto é realmente muito bom. “O Profeta” mostra um cinema francês moderno, saindo um pouco da convencional demonstração de situações cotidianas (característica francesa), para abordar a violência no sistema penitenciário francês, tema este que, caso um dia fossemos questionados a respeito, muito provavelmente responderíamos: “E existe isso na França!?”

Pois bem, existe! E como sabemos não é só um problema de lá, aqui no Brasil as penitenciárias são verdadeiras masmorras de gente empilhada, onde o indivíduo entra são (por mais contraditório que seja) e sai completamente louco! É sobre essa temática que se desenvolve “Un Prophète”. O jovem descendente de árabe Malik El Djebena, protagonista da história, é preso por ter supostamente espancado um policial, o que não fica realmente provado no filme (e também se mostra pouco crível dada a compleição física do rapaz), e, ao chegar à penitenciária, tenta passar-se por despercebido, imbuído no único objetivo de cumprir sua pena e ir embora dali.

Pobre Djabena. Seu isolamento o tornou frágil e presa fácil para um poderoso mafioso corsa (franco-italiano), seu companheiro de prisão, que o força a praticar “um serviço” em troca de proteção. Daí por diante a vida do mestiço, como é chamado, viria a mudar completamente. Djabena percebe que aquele não seria o último crime a qual seria obrigado a praticar, e opta, como única forma de se ver livre de tanta pressão, pela adoção da velha prática: “se não podes derrotar o inimigo, junte-se a ele”. E esse é o grande mote da película: por mais inocente que seja o indivíduo, na cadeia isso não perdura, ou debanda ou morre!

Nesse contexto, o protagonista percorre todos os caminhos para se tornar um completo criminoso, o que, na minha opinião, acontece de forma automática, como se o curso dos fatos o levasse a se tornar tal pessoa. Malik não parece ser uma pessoa má (percebe-se isso no seu olhar), tanto que, inicialmente, busca tornar proveitosa de alguma maneira a sua passagem na cadeia (se há como fazer isso), e começa a estudar. Outro ponto capaz de demonstrar a inaptidão de Malik para tornar-se um meliante frio e calculista é o fato de o trauma, na forma um “fantasma”, deixado pelo primeiro crime que comete o acompanhar durante todo o filme.

Grande trabalho do diretor Jacques Audiard, indicado tanto a Cannes quanto ao Oscar, que vale muito assistir e acompanhar a evolução do personagem principal e o quanto sua vida se tranforma na prisão. Fantástico!

.Paulo Cleoblo

Review: O Segredo de Seus Olhos (El Secreto de Sus Ojos, ARG, ESP, 2009)

•julho 7, 2010 • 1 Comentário

Avaliação pessoal: 8,0

Muito me impressionou esse filme argentino ganhador do Oscar 2010 de melhor filme estrangeiro: “El Secreto de Sus Ojos”. Tudo bem que o Oscar não tem sido lá grande coisa quando se trata do mérito das premiações, tendo historicamente decepcionado muitas vezes, com premiações completamente políticas e em desacordo com o que seria realmente um filme merecedor de Oscar.

O que ultimamente tem se salvado dessa absurda faceta política da premiação em destaque é o cinema estrangeiro. Em verdade admito: a seleção de filmes estrangeiros que compõem a lista o Oscar é quase sempre muito bem feita, composta de filmes que valem mesmo a pena serem vistos.

Pois bem, “O Segredo de Seus Olhos” é, de fato, um destes. A excelente trama produzida pelo diretor argentino (sim, o cinema deles é muito bom!) Juan José Campanella é extasiante! O filme se passa em duas épocas distintas, década de 70 e, ao que parece ser, os dias atuais, em que um meio oficial de justiça, meio detetive policial (não consegui fazer relação com alguma profissão ligada ao judiciário existente no Brasil) decide escrever um romance sobre o caso de uma bela jovem vítima de um estupro seguido de homicídio, ocorrido há 30 anos, e em que sua mente ainda não havia se apagado, posto o seu inconformismo com o desfecho do caso.

O protagonista do filme, Benjamím Expósito (Ricardo Darín), o que é meio detetive – meio oficial de justiça, é um homem preso ao passado em todos os sentidos, seja pelo fato de nunca ter esquecido o crime brutal acontecido, seja por que não fora feliz em seu casamento, em razão de não conseguir esquecer a paixão por sua linda chefe, a promotora Irene Hastings, maravilhosamente interpretada por uma atriz até aqui por mim desconhecida chamada Soledad Villamil. Perfeita em seu papel, tanto interpreta bem a chefe impositiva, quanto demonstra claramente através de seus olhos (e o olhar de todos os personagens é intensamente explorado no filme, o que traz a origem do seu título), a sua também exasperada paixão por Expósito. O Casal é incrível!

Por outro lado, como se tentasse amenizar o clima tenso da trama, o diretor traz um dos mais cativantes e engraçados personagens que já vi: o desastrado Pablo Sandoval. Sandoval é o retrato do funcionalismo público de antigamente, não perdendo uma oportunidade sequer de se esgueirar do trabalho, até mesmo quando atende ao telefone da repartição, sempre anunciando uma localidade diferente. Porém, como todos, Pablo é repleto de problemas. Devido ao alcoolismo que lhe acomete, vive em pé de guerra constante com sua esposa, que o põe com freqüência para fora de casa.

Portanto é isto pessoal, um filme de qualidade indiscutível, uma história madura que nos ensina a não viver repisando o passado, e que traz um desfecho inesperado, praticamente impossível de não agradar a todos que esperam pelo final.

 

.Paulo Cleoblo

Review: A Estrada (The Road, EUA, 2009)

•julho 6, 2010 • 4 Comentários

 

Avaliação pessoal: 8,5

 

“A Estrada”, ou, The Road, como prefiro chamar, e ao longo dos posts vocês verão que prefiro tratar os filmes pelos nomes originais (muito em função de achar absurdos alguns nomes em português atribuídos a filmes), NÃO é mais um filme sobre o que aconteceria se o mundo vivesse uma catástrofe que poria fim a quase todos os recursos naturais essenciais à nossa sobrevivência. Não, não é. The Road é um filme forte que ultrapassa as pretensões de um Mad Max da vida, mexendo realmente com princípios humanos, pondo o espectador a pensar sobre o que faria em situação semelhante.

A história tem como protagonistas pai (Viggo Mortensen) e filho, que empurram, literalmente, seu destino por meio de um carrinho de supermercado, vivendo como verdadeiros nômades em um mundo devastado por alguma espécie de catástrofe, não explicada pela história, mas perfeitamente plausível tendo em vista a instabilidade, natural e política que hoje vivemos, valendo a pena destacar a sutileza que o filme  trata a questão,  sem ser proselitista ou acenar bandeiras de “Salve a Natureza” ou “Morte ao Bush”.

Nesse contexto, ambos, pai e filho, traçam seu destino em direção à costa, esperançosos de encontrarem perto do oceano um resquício de vida que os salvasse de tão sombrio mundo. O cenário da longa caminhada é cinza e sem vida, as árvores são como num outono permanente e o gelo cobre a maior parte das terras. Quase não há comida e por onde andam vasculham tudo em busca de algo que lhes possa servir em sua batalha pela sobrevivência.

No caminho, se deparam com a destruição e o desespero daqueles que tentaram sobreviver e fracassaram, seja exauridos pela natureza, seja vencidos pela aflição (caso dos que ceifaram as próprias vidas), encarando-os com mórbida naturalidade, e dos que sobreviveram mas também fracassaram, pois alcançaram o grau máximo de primitividade: o canibalismo.

O pai, fantasticamente protagonizado por Mortensen, mesmo em tão incessante busca por comida, não abandona  (na maior parte do filme, e interessante perceber o ponto em que o mesmo se desespera) seus princípios e tenta os passar a seu filho, como se um mantra entoasse. Valores de que, mesmo em ambiente tão hostil não se pode trocar a qualquer preço a dignidade pela sobrevivência. Já a pobre criança, ao passo que rememora tristemente as poucas lembranças de sua Mãe (Charlize Theron, que, cansada de lutar, os abandona no meio da noite como se desistisse de viver), faz de um tudo para não desagradar seu Pai, seu herói, mesmo tendo sido obrigado a enfrentar tão escabroso destino, chegando ao cúmulo de pedir desculpas ao mesmo após vomitar a comida podre que acabara de ingerir.

The Road consegue ser ao mesmo tempo sufocante, angustiante, pesado mesmo. Porém, é uma experiência incrível e enriquecedora, que nos faz pensar sobre o quão bom é esse “dirty little world” em que vivemos e o quanto o mesmo pode se tornar indesejável se não fizermos alguma coisa e continuarmos a seguir no rumo em que estamos.

Ou seja, precisamos, como no filme, buscar um oceano que nos traga esperança dentro de nossa realidade.

 

.Paulo Cleoblo

Voilà Amies!

•julho 5, 2010 • Deixe um comentário

Aqui estou amigos. Este que vos fala é, como a própria definição do blog diz: “mais um amante de cinema tentando escrever alguma coisa sobre a sétima arte”. Pois é, e se trata mesmo de uma tentativa, afinal, fazer com que um blog não fique abandonado já é imensamente difícil, escrever bem sobre cinema, então, é quase uma missão hercúlea.

Mas vou tentar! A intenção? Mostrar através deste a minha visão de cinema para o mundo, postando, sempre que possível reviews e dicas de filmes que considero interessantes, acompanhado sempre das minhas ponderações e avaliações sobre a obra.

Então, mãos à obra…

.Paulo Cleoblo